Uma reportagem exibida neste domingo (24) pelo Fantástico, da TV Globo, revelou detalhes de uma investigação da Polícia Federal (PF) que desvendou uma conspiração golpista envolvendo militares de alta patente e aliados do governo Jair Bolsonaro. Com base em 55 áudios obtidos com exclusividade, a apuração aponta discussões que incluíam o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A matéria também foi publicada pelo jornal Valor Econômico.
Segundo a PF, o general da reserva Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, seria o principal articulador do plano. Em áudios apresentados pelo Fantástico, Fernandes aparece exaltado e questionando o resultado das eleições de 2022, alegando, sem provas, que teria ocorrido fraude. “Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa p...”, disse em 4 de novembro de 2022.Discurso conspiratório e apoio a atos violentos
Os áudios revelam um tom conspiratório e belicoso entre os envolvidos. Em uma das gravações, um participante não identificado afirmou: “Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso.”
Em outro trecho, Fernandes menciona uma conversa com o então presidente Jair Bolsonaro, sugerindo ações durante a diplomação de Lula: “Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? [...] Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades.”
Ligação com acampamentos golpistas e espionagem
A investigação também identificou uma conexão entre os acampamentos em frente a quartéis no final de 2022 e o movimento articulado pelos militares. Em um dos áudios, Fernandes sugere que os acampamentos serviam para criar pressão popular: “Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa. Para que ela se mantenha nas ruas.”
Além disso, foi descoberto que Wladimir Matos, agente da PF, repassava informações sigilosas ao grupo, incluindo dados sobre a localização e a segurança do presidente Lula. Essas informações teriam sido usadas para planejar ataques, como os episódios de violência em Brasília no dia da diplomação de Lula e Alckmin, em 12 de dezembro.
Indiciamentos e repercussão
A PF concluiu a investigação na última quinta-feira (21), resultando no indiciamento de 37 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, o ex-ministro Augusto Heleno, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, e Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
Instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) se manifestaram após a revelação do caso. Em nota, a OAB defendeu a Constituição e pediu que lideranças políticas desencorajem atos de violência. A Ajufe e a AMB destacaram a importância da independência do Judiciário e da aplicação rigorosa da lei contra ameaças ao estado democrático de direito.
A investigação lança luz sobre uma trama que buscava desestabilizar a democracia brasileira, trazendo à tona discursos e ações que ameaçaram a estabilidade institucional do país. O caso segue em análise pelo Ministério Público
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