A Polícia Federal (PF) avança na investigação sobre o esquema de financiamento de ações clandestinas que, segundo o tenente-coronel Mauro Cid, envolveu o general Walter Braga Netto. Preso no último sábado (14), o militar é acusado de repassar dinheiro, supostamente obtido junto a empresários do agronegócio, para a execução de atividades criminosas. As informações foram reveladas por Mauro Cid em delação premiada e divulgadas pelo Globo.
A prisão de Braga Netto ocorreu em sua residência no Rio de Janeiro e está diretamente ligada a uma suposta tentativa de golpe de Estado. De acordo com a PF, há indícios de que o general ajudou a financiar um plano que incluía sequestros e assassinatos de autoridades públicas
Entre as principais evidências está o relato de Mauro Cid, que afirmou que Braga Netto transportou a quantia em uma “sacola de vinho” e a entregou ao major Rafael de Oliveira. O dinheiro teria sido utilizado para a compra de um celular com pagamento em espécie, posteriormente usado por membros das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”. Esse grupo teria monitorado autoridades em 2022, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições.
Compra de celulares e operação clandestina
No dia 15 de dezembro de 2022, o major Oliveira adquiriu um celular em Goiânia por R$ 2,5 mil, em uma transação à vista feita por sua esposa. Além disso, recargas sucessivas de R$ 20 foram realizadas em Brasília, sempre com pagamento em dinheiro. Documentos apreendidos pela PF detalharam a operação chamada “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o uso de seis celulares descartáveis para uma ação clandestina no mesmo dia, cujo objetivo seria prender ou executar o ministro Alexandre de Moraes.
Os aparelhos utilizados na operação estavam registrados em nomes de terceiros e vinculados a codinomes baseados em países, estratégia que buscava dificultar a identificação dos envolvidos. A PF continua trabalhando para identificar os empresários do agronegócio mencionados por Cid como financiadores do esquema.
Ligação com o agronegócio
Durante a prisão de Braga Netto, a PF apreendeu celulares e centenas de pen drives com Flávio Botelho Peregrino, assessor do general, que estão sendo analisados. Informações complementares obtidas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) reforçam o papel de produtores rurais em ações antidemocráticas. Relatórios apontam a participação do Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), composto por empresários do setor, no financiamento de protestos e bloqueios de rodovias, além de ações extremistas, como os ataques de 8 de janeiro.
Um áudio de Mauro Cid, enviado em 16 de novembro de 2022, também destacou a participação de empresários do agronegócio. Nele, Cid afirma que o setor financiava carros de som em Brasília. Em outra conversa, uma investigada relatou que empresários financiaram o transporte de manifestantes: “O pessoal do agro de Goiânia, dos arredores de Brasília, colocou apoio para três mil ônibus”, disse.
Reação do setor agropecuário
Diante das revelações, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que reúne 340 parlamentares, pediu celeridade nas investigações e reforçou que eventuais “ações isoladas” não devem prejudicar a imagem de um setor composto por mais de seis milhões de produtores. A FPA ressaltou que a maioria dos empresários do agronegócio opera dentro da legalidade e condena qualquer tipo de envolvimento em atividades criminosas.
As investigações seguem com a análise de documentos, áudios e dispositivos eletrônicos, enquanto a PF busca esclarecer a extensão do envolvimento de produtores rurais no financiamento de atos golpistas.
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